O relativismo no ambiente da fé
O relativismo atual coloca a ciência como uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem; a qual está acima da moral e da religião
O que é o relativismo moral e religioso? É uma linha de pensamento que nega haver uma “verdade absoluta e permanente” como a Revelação de Deus nas Escrituras e na Tradição da Igreja. Então, deixa por conta de cada um definir a ”sua verdade” e aquilo que lhe parece ser o seu bem, como se a verdade fosse algo a se escolher e não a se descobrir. Nessa ótica, tudo é relativo ao local, à época ou a outras circunstâncias. É o engano do historicismo. Para seus adeptos, como Marcuse, “a pessoa se torna a medida de todas as coisas” ou então “o super-homem” de Nietzsche, que se afirma eliminando Deus.
Evidentemente, a Igreja rejeita o relativismo, porque há verdades que são permanentes. As verdades da fé e da moral cristã são perenes, porque foram dadas por Deus. Cristo afirmou solenemente: “Eu sou a Verdade” (Jo 14,6); ”a verdade vos libertará” (Jo 8,32); “e disse a Pilatos que veio ao mundo exatamente ‘para dar testemunho da verdade'” (Jo 18,37). São Paulo relatou que ”Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4) e que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3, 15). Portanto, segundo a Bíblia, a verdade que salva não está em qualquer cabeça, mas na Igreja, a quem Cristo prometeu “participar da sua infalibilidade” (CIC 889).
Ora, se negarmos que existe a verdade objetiva e perene, o Cristianismo ficará destruído desde a sua raiz. O Evangelho é o dicionário da verdade. Segundo o relativismo, no campo moral não existe “o bem a fazer e o mal a evitar”, pois o bem e o mal são relativos. Isso destrói completamente a moral católica, a qual moldou o Ocidente e a nossa civilização. Contudo, esse relativismo hoje está penetrando cada vez mais nas universidades, na imprensa e até na Igreja. Ele ignora a lei natural, que é a Lei de Deus colocada na consciência de todo ser humano desde que este dispõe do uso da razão.
Por causa do relativismo moral, os governantes propõem leis contra a Lei Natural que Deus colocou no coração de todos os homens. Dessa forma, a palavra do legislador humano vai superando a do Legislador Divino, a qual é a mesma para todos os homens.
O Papa Bento XVI falou insistentemente do perigo da ”ditadura” do relativismo, que vai oprimindo quem não a aceita. Quem não estiver dentro do ”politicamente correto” é anulado, desprezado, zombado com cinismo. Sobre essa mesma ditadura, o Sumo Pontífice falou, em 18 de abril de 2005, na homilia da Santa Missa preparatória do Conclave que o elegeu: ”Não vos deixeis sacudir por qualquer vento de doutrina (Ef 4, 14). Quantos ventos de doutrina viemos a conhecer nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modalidades de pensamento! O pequeno barco do pensamento de não poucos cristãos foi frequentemente agitado por essas ondas, lançado de um extremo para o outro: do marxismo ao liberalismo ou mesmo libertinismo; do coletivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo. Todos os dias nascem novas seitas e se realiza o que diz São Paulo sobre a falsidade dos homens, sobre a astúcia que tende a atrair para o erro (cf. Ef 4, 14). O ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é, muitas vezes, rotulado como fundamentalismo. Entrementes, o relativismo ou o deixar-se levar para cá e para lá por qualquer vento de doutrina aparece como orientação única à altura dos tempos atuais. Constitui-se assim uma ditadura do relativismo, que nada reconhece de definitivo e deixa como último critério o próprio eu e suas veleidades”.
O relativismo derruba as normas morais válidas para todos os homens, ele é ateu, vê na religião e na moral católicas um obstáculo e um adversário, pois Deus é visto como um escravizador do homem e a moral católica destinada a torná-lo infeliz. É maquiavélico, aceita o princípio de que os fins justificam os meios, e que tudo é válido para se obter alguma meta.
O relativismo atual coloca a ciência como uma deusa que vai resolver todos os problemas do homem, a qual está acima da moral e da religião. Mas se esquece de dizer que o homem nunca foi tão infeliz como hoje; nunca houve tantos suicídios, nunca se usou tanto antidepressivo e tantos remédios para os nervos; nunca se viu tanta decadência moral (aborto, prostituição, pornografia, prática homossexual…), destruição da família e da sociedade.
O relativismo é embalado também pelo ceticismo e pelo utilitarismo, os quais só aceitam o que pode ajudar a viver num bem-estar hedonista, aqui e agora. Há uma verdadeira aversão ao sacrifício e à renúncia.
Infelizmente, esse perigoso relativismo religioso, que tudo destrói, penetrou sorrateiramente também na Igreja, especialmente nos seminários e na teologia. Isso levou o Papa João Paulo II a alertar aos bispos na Encíclica Veritatis Spendor, de 1992, sobre o perigo desse relativismo que anula a moral católica. No centro da crise, o saudoso Pontífice viu uma grave “contestação ao patrimônio moral da Igreja”. Ele diz: Não se trata de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja… (n. 4). E chama a atenção para o fato grave de que a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas está acontecendo mesmo nos seminários e nas faculdades eclesiásticas” (idem).
No centro da crise moral, enfatizada por João Paulo II, ele revela qual é a sua causa: “O homem quer ocupar o lugar de Deus”. A Revelação ensina que não pertence ao homem o poder de decidir o bem e o mal, mas somente a Deus (cf. Gen 2,16-17). Não é lícito que cada cristão queira fazer a fé e a moral segundo “o seu próprio juízo” do bem e do mal.
É por causa desse relativismo moral que encontramos vez ou outra religiosos e sacerdotes que aceitam o divórcio, o aborto, a pílula do dia seguinte, o casamento de homossexuais, a ordenação de mulheres, a eutanásia, a inseminação artificial, a manipulação de embriões, o feminismo e outros erros que o Magistério da Igreja condena explicita e veementemente.
Esse mesmo relativismo é a razão que move os contestadores do Papa, do Vaticano, dos bispos e da hierarquia da Igreja, como se estes tivessem usurpado o poder sagrado e não o recebido do próprio Cristo pelo Sacramento da Ordem. Esse relativismo fez surgir na Igreja a teologia liberal de Rudolf Bultman, que por sua vez alimentou uma teologia da libertação marxista, feminista, e que agora defende até uma teologia gay.
É preciso repetir o que disse Santa Teresa de Ávila, no meio do tumulto da Reforma luterana (1515-1591): “Em tudo me sujeito ao que professa a Santa Igreja Católica Romana, em cuja fé vivo, afirmo viver e prometo viver e morrer”.
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