RETIRO DO CLERO


Um Retiro Abençoado

Uma participação de 95% do clero da Arquidiocese de Maceió, padres, diáconos e nosso Arcebispo

Da redação
Missa de encerramento do retiro
         Passamos um retiro abençoado no Crato. Uma participação de 95% do clero da Arquidiocese de Maceió, padres, diáconos e nosso Arcebispo. Foi num centro de formação na cidade do Crato, num pé de serra. Um lugar místico de oração, silêncio e recolhimento. O pregador foi dom Fernando Panico, um bispo acolhedor, feliz com seu ministério, feliz com sua diocese a qual batizou de "Igreja missionaria e romeira".
         Dom Fernando, não nos acolheu com alegria por sermos padres. É a mesma atitude que toma ao receber todos que vem ao Juazeiro: todos os Romeiros levam na memoria e no coração seu sorriso, sua alegria e sua palavra carregada de Deus. Foi a mesma impressão que nós padres trouxemos conosco.
        Foram dias de reflexão e oração intensa. Foi também dias de confronto com a Palavra de Cristo. Passagens bíblicas que nos deram força de ânimo para continuar nossa missão, superando nossos momentos de crise, de duvida, de magoa e de decepção.
        Como foi bom pisarmos o chão sagrado da cidade do Juazeiro, pisado pelas sandálias de tantos Romeiros que buscam a bênção e luz do padre Cicero e da Virgem das dores. Nossa Senhora que representa as dores e angústias do povo nordestino. Como foi emocionante celebrarmos na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, lugar onde estão os restos mortais do padre Cicero.
        Tive a alegria de ouvir o bispo do Crato chamar padre Cicero de patriarca do Nordeste, escorreu uma lacrima de meus olhos por ver ali sepultado um padre que viveu para servir o povo humilhado e sofredor. Padre Cícero viveu a amargura de ser perseguido e odiado por alguns bispos e padres do seu tempo, até hoje é causa de cizânia e conflito. Por causa deles morreu suspenso de ordem, sem poder exercer seu ministério sacerdotal ao qual Deus o chamou. Porém, Deus possibilitou que padre Cicero servisse os pobres como prefeito do Juazeiro e vice governador do Ceará. Deus abriu uma brecha num muro de preconceito no qual queriam enjaulá-lo.
        No momento de sua morte foi uma comoção enorme, o povo chorando a perda de seu pai e protetor. A multidão leva seu o caixão, cantando louvores e benditos, para a Igreja construída por ele para ser a tumba da beata Maria das Dores (a beata do Milagre eucarístico). Anos antes, num ato de violência brutal, na calada da noite, a mando do pároco da cidade profanaram a sepultura da beata, sumiram com seus restos mortais, na opinião dos profanadores era inconcebível uma negra, pobre e ignorante ser santa e ser venerada numa Igreja.
        Padre Cicero nunca se conformou com a violência, muito menos o povo que o via como guardião dos bons costumes do sertão. Num ato de rebeldia, o povo depositou na mesma Igreja outrora profanada o corpo maltratado do padre Cicero que morreu cego, com dores enormes no ventre que não permitia que dormisse e se alimentasse. Oh! Bendita revolta do povo, quem se atreve hoje a profanar os restos mortais sagrados de meu padrinho Cícero.
        Chorei quando lembrei-me desse episódio, somando meu grito mesclado a minha prece: "permita Senhor que padre Cicero seja venerado como santo, na Igreja do Brasil e no mundo", “permita Senhor que ele seja um modelo para o clero do Brasil”, um santo incompreendido em seu tempo, mas venerado hoje nos rincões desse nordeste sofredor.
         Outra experiência marcante foi a visita a cidade de Santana do Cariri, onde conhecemos a historia da jovem adolescente Benigna Cardoso da Silva, com treze anos morre a golpes de foice nos idos de 1941, por resistir heroicamente contra uma violência sexual, um homem chamado Raul queria violenta-la, mas ela resistiu por amar a Jesus e querer guardar sua pureza intacta. Neste dia rezei: "bendito sejais Senhor pela santidade que semeaste em nosso nordeste". Enquanto muitos acham que nesses rincões não se produz santidade Deus mostra que faz com seu divino Espírito brotar flores perfumadas no solo surrado do sertão.

                                                                                         Côn. José Everaldo R. Filho

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