Festa da Divina Misericórdia


No ano de 1931, pela primeira vez Nosso Senhor falou sobre a instituição da Festa da Misericórdia à Santa Faustina - na mesma ocasião em que pediu que fosse pintada a Imagem da Misericórdia: “Eu desejo que haja a Festa da Misericórdia. Quero que essa Imagem, que pintarás com o pincel, seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse Domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário de Sta. Faustina, 49).
Por que no domingo após a Páscoa?
Entre todas as formas de Devoção à Divina Misericórdia - reveladas por Jesus à Santa Faustina - a Festa da Misericórdia merece uma observação mais atenta da nossa parte. No Diário o tema aparece em 37 números.
A escolha do primeiro domingo depois da Páscoa para se celebrar a Festa da Misericórdia tem um amplo sentido teológico. Mostra a estreita união que existe entre o mistério Pascal da Redenção e o mistério da Misericórdia de Deus. Esta união é ainda sublinhada pela Novena à Divina Misericórdia, com o Terço da Misericórdia, começando na sexta-feira Santa.

A instituição da Festa em toda a Igreja
No dia 30 de abril de 2000, na Praça de São Pedro, em Roma, o Papa João Paulo II canonizou Santa Faustina Kowaslka e instituiu solenemente a Festa da Misericórdia em toda a Igreja. Na homilia daquela celebração, à qual acorreram milhares de pessoas, o Papa declarou: “É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de domingo da Divina Misericórdia. Nas diversas leituras, a liturgia parece traçar o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre os homens novas relações de solidariedade fraterna”. E disse, ainda: “Quantas almas já foram consoladas pela invocação Jesus, eu confio em Vós, que a providência sugeriu através da Irmã Faustina! Este simples ato de abandono a Jesus dissipa as nuvens mais densas e faz chegar um raio de luz à vida de cada um”.
João Paulo II, portanto, recebeu de Deus a graça de ter sido escolhido como instrumento para a realização do desejo profundo de Jesus, a instituição da Festa da Misericórdia. Hoje, quando celebramos aqui na terra a solenidade da Misericórdia Divina, juntamos nossas vozes à voz de Santa Faustina e de Karol Wojtyla, já participantes da glória eterna, para proclamar: “Misericórdia Divina, eu confio em Vós”.

Santa Faustina e a Festa da Misericórdia
No Evangelho de São Mateus, Jesus nos fala: “Se não mudardes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18,3). E no Evangelho de São Marcos, o Senhor nos diz que é preciso acolher o Reino de Deus “como uma criança” (cf. Mc 10, 15).
Nestas duas passagens, podemos destacar duas virtudes de Santa Faustina que nos ajudam a compreender o modo como ela esperou ansiosamente e, de certa forma, antecipou as alegrias da Festa da Misericórdia.
Simplicidade - a primeira virtude
Santa Faustina era, sem dúvida, simples como uma criança nas mãos de Deus e Jesus mesmo apreciava essa sua atitude, dando-lhe graças para aperfeiçoá-la. De fato, disse-lhe Jesus: “quero ensinar-te a infância espiritual. Quero que sejas muito pequena, porque, quando és pequena, Eu te carrego junto ao Meu Coração”(Diário, 1481).
A segunda virtude
A segunda virtude é o reconhecimento de que aquilo que se recebe é dom gratuito e não uma forma de recompensa por nosso merecimento. Como exprime o Pe. Raniero Cantalamessa: “Acolher o Reino como uma criança significa acolhê-lo gratuitamente, como dom, não a título de merecimento (...) As crianças sabem por instinto a diferença que há entre o merecimento e o privilégio e jamais renunciarão ao seu privilégio de serem crianças, pelo merecimento” (A vida em Cristo, Ed. Loyola, 1998, p. 52).
Há uma passagem do Diário que revela as alegrias do coração de Faustina tanto por sua participação na obra da Misericórdiaquanto pela Festa da Misericórdia. Assim escreveu ela: “Hoje recebi uma Carta do Padre Sopocko, pela qual soube que ele pretende mandar imprimir um santinho de Jesus Misericordioso. Pediu-me que lhe enviasse certa oração, que ele quer colocar no verso, se conseguir a aprovação do Arcebispo. Oh! De quanta alegria se enche meu coração por Deus me ter permitido ver essa obra da Sua misericórdia. Oh! quão grandiosa esta obra do Deus Altíssimo! Eu sou apenas Seu instrumento. Oh! quão ardentemente desejo ver essa Festa da Misericórdia Divina que Deus está exigindo através de mim, mas se for a vontade de Deus e se ela tiver que ser comemorada solenemente apenas depois da minha morte, eu já agora me alegro com ela e já a comemoro interiormente com a permissão do confessor” (Diário, 711).
O profundo desejo de Santa Faustina de ver reconhecida pela Igreja a Festa da Misericórdia é uma atitude respeitosa à vontade de Deus. Esse é, sem dúvida, o segredo de sua serenidadeembora seja uma exigência de Deus, tudo acontece no “tempo de Deus” e não no “tempo dos homens”. Contudo, seu desejo não deixa de fazer eco no coração do próprio Jesus, que lhe declara: “Pelos teus ardentes desejos, estou apressando a Festa da Misericórdia” (Diário, 1082). Essa intimidade de Santa Faustina com Jesus, a ponto de mover o coração do Senhor, nos surpreende e ensina. Oxalá também nós tivéssemos esse mesmo nível de confiança em Jesus Misericordioso. Como os apóstolos, devemos sempre elevar a Deus, sem descanso, esse clamor: “Senhor, aumenta-nos a fé!”(Lc 17,5).


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