Em 2014, congregação completa 120 anos no Brasil

Era final do século XIX quando os primeiros missionários redentoristas chegaram ao Brasil. Em 1894, desembarcaram no interior de São Paulo para iniciar uma longa caminhada de evangelização através das santas missões populares.
Segundo o vice-provincial de São Paulo, padre José Inácio Medeiros C.Ss.R., a atuação missionária dos redentoristas continua sendo importante para o país. “Depois de quase 120 anos, as Santas Missões continuam tendo um grande contributo a dar à Igreja do Brasil, tão empenhada na grande missão continental, como pede a Conferência de Aparecida”, afirma.
Ao longo do tempo, o modo de realizar as missões foi mudando de acordo com as próprias transformações que foram ocorrendo na Igreja. Antes baseadas nos exercícios de Santo Inácio de Loyola, com um apelo à conversão pessoal e à salvação individual, as Santas Missões passaram, a partir do século XIX, a se preocupar com aspectos sociais. Se antes o slogan que motivava toda a ação missionária era Salva tua Alma, uma ação mais presente na sociedade e uma preocupação maior com o sentido comunitário forjou uma frase que expressa um outro jeito de ser Igreja no mundo: Unidos em Cristo. A chegada do século XX trouxe com ele indícios de renovação, com o surgimento de novos institutos missionários. Os anos 1950 são considerados a época de ouro das missões populares, tanto pela quantidade de missões que se pregou, quanto pela sua variedade e intensidade.
Grandes acontecimentos de Igreja da época, como os congressos eucarísticos e a celebração do 4º Centenário da cidade de São Paulo, foram precedidos pela pregação das Santas Missões como forma de preparar o povo”, explica padre Inácio.
Se o Concílio Vaticano II trouxe novos ares para Igreja, essa renovação veio acompanhada de crises e mudanças. O método tradicional já não dava respostas às necessidades da sociedade da época. Era necessário buscar novos caminhos e novos métodos.
Novos Rumos
Rápida industrialização, crescimento das cidades, influências dos meios de comunicação social, crescimento demográfico, êxodo rural, avanço do materialismo, crescimento da secularização e diminuição da prática religiosa e sacramental. Essas foram algumas das características do mundo pós-segunda guerra mundial que deram impulso de renovação às missões populares.
Padre José Ignácio Medeiros, C.Ss.R.: “Depois de quase 120 anos, as Santas Missões continuam tendo um grande contributo a dar à Igreja do Brasil”
Padre José Inácio Medeiros, C.Ss.R.: “Depois de quase 120 anos, as Santas Missões continuam tendo um grande contributo a dar à Igreja do Brasil”
Padre Inácio explica que várias tentativas de mudança surgiram a partir das décadas de 1950 e 1960. “Após a realização de muitas experiências e testes, no período entre guerras e no pós-concílio Vaticano II, a missão popular passou a se organizar de uma maneira diferente, variando de acordo com cada país ou região”, afirma.
Segundo o vice-provincial, as mudanças foram capazes de conferir um novo vigor às missões. Uma das novidades foi o uso de pesquisas sociológicas para conhecer a realidade, os anseios, as necessidades e o modo de vida das localidades onde as missões seriam realizadas. A organização passou a ser feita em quatro fases, as famílias passaram a ser divididas em grupos de rua ou círculos bíblicos, passando a viver a missão de modo mais efetivo. Também foram criadas as equipes diocesanas de missões, que antes eram exclusividade das congregações religiosas. Os párocos passaram a ser parte integrante da ação missionária. O conceito de missão popular também mudou. “Deixou de se preocupar de maneira prioritária com a salvação das almas e passou a dirigir o foco para a valorização da vida comunitária, integrando as missões na pastoral local”, relata padre Inácio.
Origens
Pregar o Evangelho aos mais pobres e abandonados. Esse foi o objetivo que motivou o nascimento da Congregação do Santíssimo Redentor (C.Ss.R.). Fundado por Santo Afonso de Ligório, o método missionário apresentava características próprias, representando uma grande novidade em relação a outras iniciativas da época.
“A preocupação maior estava na simplicidade de vida, na clareza e objetividade da pregação. Também tinha grande valor o testemunho pessoal do missionário”, relata padre Inácio.
Nas áreas de missão eram construídas as casas missionárias, que funcionavam como bases de ação. As missões duravam entre 15 e 20 dias e tinham como prioridade atender a zona rural e povoados do interior. Baseadas nas grandes verdades da fé, as pregações eram feitas bem no estilo afonsiano: claras, sem rodeios, sem impor as verdades pelo medo, incentivando a vida devota como meio de perseverança. Imagens eram utilizadas para reforçar as mensagens. Textos e músicas completavam a pregação, alimentavam a espiritualidade do povo e combatiam erros da época.
Continuando a obra de Santo Afonso
Em 1895, um ano depois da chegada dos primeiros missionários ao Brasil, a C.Ss.R. já contava com 2.788 congregados em 145 casas espalhadas pelo mundo. Em 1965, a congregação viveu o período de maior expansão da sua história até hoje. Naquele ano, os redentoristas atingiram a marca mundial de 8 mil membros.
Na Alemanha, apesar dos problemas com o governo, a Congregação do Santíssimo Redentor teve um bom crescimento. Na época da vinda dos missionários alemães ao Brasil, aquele país contava com oito casas e 117 membros. Veio de lá o método que depois seria adaptado à realidade brasileira.
Os redentoristas vieram ao Brasil convidados pelos bispos de São Paulo e de Goiás. Segundo o padre Ignácio, o objetivo era ajudar na educação do clero e do povo, trabalhando nas Santas Missões, suprindo a grande falta de padres que havia para atender as paróquias e realizando o atendimento da pastoral de santuários, como Aparecida e Trindade. A principal preocupação era com a reforma da Igreja, que passava por um processo de revitalização, após os prejuízos sofridos durante o império. “Os missionários redentoristas ajudaram a implantar um novo modelo de Igreja. A presença dos redentoristas também implicava o trabalho de ‘saneamento’ das confrarias e irmandades, sobretudo nos santuários, com a orientação cristã do povo e o incentivo à vida devota”, conclui.
JS_pag_8e9.indd
Pag08_iconeMissões redentoristas têm quatro fases
“Vamos receber as pregações das Santas Missões Redentoristas.” Assim que chega a notícia, a comunidade já começa a se organizar. Realizado em quatro fases, o processo envolve toda a paróquia e suas comunidades.
Cada etapa é fundamental para a missão, que se realiza na participação ativa das comunidades, na partilha profunda de vida e nos ensinamentos, pensamentos e orações em torno da experiência pessoal com o Cristo.

Irmãs visitam as casas para anunciar a missão e fazer levantamento sociorreligioso
Irmãs visitam as casas para anunciar a missão e fazer levantamento sociorreligioso
Primeira fase: Missão da Visitação
Na visita às famílias, é feita a divulgação das missões e o convite à participação. Na ocasião, também é feito um levantamento sociorreligioso e divisão da comunidade em setores. Já nesse primeiro período, uma irmã missionária fica hospedada numa das casas da localidade, onde monta sua “sala das missões” para atender às pessoas.
Nesse período também acontece a primeira reunião com as lideranças locais. O objetivo é conseguir que eles se tornem colaboradores da Igreja. No encontro são apresentadas as quatro fases da missão e ressalta-se a importância dos coordenadores de setor e de seus auxiliares. O pároco é chamado a estar disponível, dando suporte aos trabalhos e fornecendo as informações e materiais necessários.
A decisão mais importante, nessa fase, é a escolha dos coordenadores e auxiliares dos setores, agentes ativos da missão.
Os encontros determinam a divisão de responsabilidades entre os setores e a orientação das lideranças
Os encontros determinam a divisão de responsabilidades entre os setores e a orientação das lideranças
Segunda fase: Missão nas famílias
O objetivo é organizar a evangelização das famílias de casa em casa. Além das famílias, condomínios, escolas e meios de comunicação também são envolvidos na ação.
Na visita, o missionário celebra com todo o povo e anima a comunidade. Depois da celebração, entrega o material que será usado pelos setores. É dever da comunidade providenciar hospedagem e condução para o missionário, além da confecção do cruzeiro e outros detalhes práticos da missão.
Um domingo é reservado para um dia de formação e capacitação para coordenadores e auxiliares. O coordenador e a irmã missionária preparam o programa, confirmam as datas, o número de missionários e tudo o mais necessário.
Comunidades participam com entusiasmo das Santas Missões Redentoristas
Comunidades participam com entusiasmo das Santas Missões Redentoristas
Terceira fase: Tempo Forte de Evangelização
Nessa etapa, acontece a evangelização de toda a comunidade, através de anúncios e celebrações. O plano prevê cinco dias de atuação em comunidades pequenas, oito dias em localidades de médio porte e pelo menos 11 dias nas grandes comunidades. O mesmo vale para o número de missionários.
A programação é intensa. Os horários vão da madrugada até a noite. Por isso, é importante que, durante o período das santas missões, não haja eventos paralelos.

Comunidades participam com entusiasmo das Santas Missões Redentoristas
Comunidades participam com entusiasmo das Santas Missões Redentoristas
Quarta fase: Tempo da Perseverança
Após as celebrações das Santas Missões, coordenadores e auxiliares são chamados a continuar se reunido periodicamente nas casas, contando com a ajuda do pároco. O objetivo é motivar as famílias para a perseverança dos grupos de oração, reflexão e vivência cristã a partir dos subsídios deixados.
Uma ou mais vezes, alguns missionários voltam à comunidade para reanimar os setores, de acordo com as necessidades e o interesse dos párocos.
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Fonte: Jornal Santuário. 

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